sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Viajando para Portugal

Quando em 1969, o ator e cômico Spina, brasileiro radicado em Portugal, chegou no Rio de Janeiro, ele trazia dos empresários portugueses, o nome de duas vedetes no bolso: Sonia Mamede e Eloína. O convite era para trabalhar nas boates das Colônias Portuguesas na Africa e o salário era bem mais alto que o oferecido em Lisboa. Spina apareceu na Praça Tiradentes e a primeira pessoa que encontrou fui eu, que estava trabalhando com o Colé no teatro Carlos Gomes na revista " Rio, Sol e Fantasia." Mas ele também queria falar com a Sonia Mamede, pois ele não conhecia meu trabalho..... Foi então assistir a revista e se encantou comigo em cena. Mas havia um problema, eu estava em cartaz e a Sonia estava parada .....Telefonamos para ela que argumentou não poder viajar na ocasião. E agora? Que fazer? Fui falar com o Colé que disse: " Eu não prejudico ninguém, acho que você deve ir, desde que coloque alguém a sua altura no seu lugar.".... Fomos telefonar para a Sonia Mamede que aceitou me substituir ..... e assim eu e mais seis bailarinas da TV Record e uma cômica chamada Lourdes Santana formamos o grupo para as colônias de Portugal na África. Chegamos em Lisboa no dia 31/07/1969. No aeroporto estavam os empresários nos esperando e a vedete portuguesa Aída Baptista. Aí então soubemos que não poderíamos mais ir para a África, pois as colônias haviam entrado em conflito com o domínio português. Nosso destino era, então Portugal. Tudo havia mudado, chegamos em Lisboa no verão, fora de temporada e como já tínhamos contrato assinado, o jeito foi em um mês remontarem uma revista para a cidade do Porto, e assim estreiamos no teatro Sá da Bandeira a peça " Mãos a Obra", no dia 30/08/1969 . Fomos muito bem recebidos tanto pela crítica, como pelo público.Foi um sucesso !!!
Fizemos então uma excursão pelo interior levando " Mãos a Obra "em várias cidades: Évora, Portalegre, Coimbra, Aveiro, Guarda, Póvua do Vazim, Setubal, Guimarães, Braga etc,,,,
Tinhamos no elenco Aída Batista, vedete portuguesa, Carlos Coelho, cômico português, Spina, cômico brasileiro e eu a vedete brasileira. Era um elenco homogênio, com igualdade de papéis e de destaques Haviam bailarinas brasileiras, portuguesas e de outras nacionalidades. Do Porto, voltamos para Lisboa e começamos a ensaiar a revista para a grande temporada de inverno que estreiaria no Teatro Variedades, no Parque Mayer ,um centro cultural com vida própria, muito bem estruturado com restaurantes, cafés, cabeleireiros, barracas de tiro ao alvo, um pequeno ringue de luta livre e boxe , além de outras diversões, onde funcionavam quatro teatros: o ABC, o Variedades, o Capitólio (grandes), e o Maria Vitória um acochegante teatrinho de bolso. O Parque Mayer era frequentado por famílias que lá iam passear e assistir os espetáculos em cartaz. Quando acabavam as sessões os portões do Parque fechavam, pois era um centro especialmente cultural com seu cinema ao ar livre no terraço do teatro Capitólio.
A concorrência era muito forte, todos queriam apresentar o que havia de melhor para aquela temporada . Contratos novos eram assinados e nas fachadas iluminadas brilhavam nomes de famosos artistas do mundo inteiro. Era um charme só! Uma disputa sadia que oferecia trabalho para muitos, pois cada teatro possuia uma grande equipe de artistas, técnicos, músicos e outros trabalhadores dentro do andamento do espetáculo. Sempre senti muito orgulho de ter feito parte desta emoção que era uma estréia em Lisboa, tendo sido eu a última vedete brasileira a ser convidada para estrelar uma revista portuguesa. Após a estréia íamos todos para um restaurante esperar as críticas, que saiam na madrugada, e o frio que dava na barriga na hora de entrar em cena, para uma platéia de 1.800 espectadores, continuava até a chegada dos jornais!!!
No teatro Variedades nosso elenco contava com Aída Baptista, Carlos Coelho, Spina, Eloína, Anita Guerreiro, António Calvário, Max, Helena Cardinale e Vítor Espadinha. O coreógrafo era Mariano Franco com um grupo de bailarinas portuguesas e internacionais. Os empresários eram Vasco Morgado e Giuseppe Bastos, os autores eram Paulo da Fonseca, César de Oliveira e Rogério Bracinha, os compositores eram João Nobre e Carlos Dias, este era o time de " Peço a Palavra ", sem dúvida um grande sucesso que muita saudades deixou na minha trajetória artística. Foi para mim uma honra ter trabalhado com estes excelentes profissionais !!!!