segunda-feira, 27 de abril de 2009

Mara Rúbia, a Vedete, Começo de Tudo

Após o namoro com Jardel Filho, nos mudamos para a rua Siqueira Campos na saída do Tunel Velho. Continuei no Colégio Imaculada Conceição e as tardes fui estudar inglês no Cultural na Av. Copacabana em frente a loja São João Batista, que era um prédio de quatro andares onde na cobertura morava a mais linda de todas as vedetes: a loura Mara Rúbia. Passei a frenquentar sua casa e as aulas de inglês foram ficando para mais tarde. Seu apartamento tinha um salão onde havia um piano que ela não tocava e eu ensinava a ela o pouco que sabia. Na cobertura tinha um pequeno palco onde ela ensaiava seus números. Loura, cabelos bem curtinhos e muito carismática, aquela mulher representava tudo que eu admirava na vida. Osmarina, esse era seu nome. Era do Pará, desquitada e tinha três filhos. Fazia sucesso, junto com Virginia Lane, nas Revistas do Walter Pinto no Teatro Recreio. Era simpática e charmosa e era a minha inspiração. A Mara tinha um cacoete, acho que no lado direito do rosto, e ela ficava piscando várias vêzes. Certa ocasião, eu já trabalhava no teatro, estavamos no bar do Teatro Recreio, Silva Filho, Perpétuo Silva, São Cristovão (maquinista), Walter Pinto, mais outras pessoas e um rato de teatro. Rato de teatro era aquele que não trabalhava no meio, mas sempre estava presente, ninguém sabia como aquela pessoa conseguia se inflitrar de tal modo que sua presença era aceita sem questionamentos. Alguns se tornaram até famosos. Conversávamos, quando a Mara chegou para a sessão da tarde. Parou junto ao grupo sorriu para todos, disse algumas palavras e foi para o camarim. Quando ela se retirou o rato falou: " Vocês viram, a mulher piscou para mim o tempo todo!" A gargalhada foi geral! Mara dizia que a vida de vedete era uma ilusão, que na noite todos a conheciam, a admiravam, mas quando chegava em casa sua companheira era a solidão. Não conseguia entender como era possível uma mulher tão linda falar de solidão. Comentava que a vida de família ainda era tudo que ela mais desejava . Aconselhava que se um dia eu fosse trabalhar no palco e me perguntassem o que sabia fazer a resposta deveria ser: "Tudo". "Sim sei cantar, sim sei dançar", sempre sim. Como foram úteis nossos encontros e conversas para minha vida. Alguns anos depois estava eu dizendo que sabia fazer tudo num palco, sem saber fazer nada, e muitos anos depois compreendi o que era ser famosa e sentir solidão.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

O Grupo Cartaberta e Os Mistérios do Sexo

Quando comecei a escrever este blog não tinha a intenção de seguir uma ordem cronológica ia escrevendo conforme a saudade batia ou a inspiração viesse. Mas até mesmo num blog não somos donas do nosso destino e eis que aparece uma encantadora pessoa mexendo num passado não muito distante e despertando lembranças agradáveis. Necka Ayala, querida amiga, você trouxe de volta um tempo que foi precioso demais, quando no seu blog, in neckaayala.blogspot, mandou aquele recado que me inspirou este texto. A primeira pessoa que me convidou para fazer teatro em Porto Alegre, foi Carlos Carvalho. Eu ainda estava fazendo a faculdade de Artes Cênicas, e nos reunimos na casa dele e da Araci Esteves, no elenco lembro da Lourdes Eloi e do Bira Valdez que também faria a produção. Não fiquei, pois meu marido, Orlando de Lima, havia sofrido seu segundo infarto e precisava muito de minha atenção. Outra ocasião, João Castro Lima e Lutti Pereira me convidaram para fazer uma comédia , mas a faculdade atrapalhou tudo e novamente recusei. Quando Toninho Vasconcellos me chamou para o papel da portuguesa, Dona Augusta, na peça de Coelho Neto,"Os Mistérios do Sexo", na primeira leitura eu já sabia que faria e que a peça seria um sucesso. Pura intuição artística! O Grupo era o Cartaberta formado pelos funcionários dos Correios, Fábio Peroni, Rô Saad, Bárbara Zerbrowiski e Gisele Peroni e os atores Gian Carlomagno, Henri Iunes, Taís Van Ondheusden e eu como atriz convidada. Estreamos no dia 4 de Agosto de 1990 no Auditório dos Correios e Telégrafos. Sobre o espetáculo escreveu o crítico de teatro do jornal Zero Hora, Cláudio Heemann: "Com bom ritmo e atores desenvoltos, visual pop e marcações dinâmicas, Toninho Vasconcellos acertou na mosca.Os Mistérios do Sexo brilha como comédia de costumes. " e segue mais adiante: " Eloina Ferraz após anos de ausência, volta`acena em plena forma, no papel de uma bisbilhoteira". Tivemos seis indicações para o troféu Açorianos e sete para o troféu Quero-Quero. Apresentamos também nos teatros Àlvaro Moreira, Bruno Kiefer, Câmara, Renascença, nas cidades de Pelotas, Montenegro e Santo Angêlo e no Festival de Teatro de Canela. Havia muita garra naquilo que fazíamos, eramos unidos pelo mesmo desejo: fazer o melhor possível para agradar ao público. E conseguiamos. Ficamos em cartaz dois anos. Não continuei no Grupo, porque a montagem seguinte seria "Medéia" e eu não queria fazer, naquele momento, uma tragédia. Recordo com carinho os encontros, onde o violão, a voz da Necka e da Rô, embalavam nossos momentos de descontração e as madrugadas naquele boteco perto do apê do Toninho que servia um vinho tinto de jarro que a gente tomava, ficava mais alegre, e esquecia da vida!

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Jardel Filho, Primeiro Namorado

Moravamos na rua Gustavo Sampaio, no Leme (RJ), eu tinha 14 anos e frequentava a praia junto com uma amiga que morava em frente ao mar, Aimê, ela era sobrinha do deputado Barreto Pinto, uma figura bastante polêmica na época. Durante a semana iamos a praia e aos domingos ao Teatro Municipal assistir óperas que o deputado fornecia os convites, daí minha paixão pelo gênero. Havia outra amiga que vez ou outra aparecia, Hazel, bonita, pra ninguém botar defeito. Esse trio paquerava os rapazes e o favorito era um louro de olhos azuís da cor do céu que morava numa travessa da Gustavo Sampaio com sua mãe dona Lodia Silva. Seu nome era Jardel Filho. Olhavamos tanto para ele que um dia ele veio falar conosco. Quando ele se aproximou minhas pernas começaram a tremer, o mundo parecia que tinha parado e quase desmaiei diante daquele par de olhos azuís. Assim começou nosso namoro. Todos os dias nos encontravamos na praia e ficavamos juntos de mãos dadas indo até o mar brincar. Um dia fomos ficando, ficando, deitados na areia e ele me deu o primeiro beijo na boca. Pensei que fosse morrer......minha mãe veio me procurar e viu, pois a hora havia passado e nós nem percebemos. Ela estava furiosa, pois meu comportamento não era de uma menina decente. E aquele homem bem mais velho , era um artísta. Foi um escândalo na minha casa. Fui proibida de ir a praia e a ópera! Fiquei de castigo e tive que prometer a ela que não veria mais o Jardel. Promessa que, evidentemente, não cumpri. Nos encontravamos as escondidas e ele me convidou para assistir "Jezebel", no Teatro Copacabana , levei a Hazel que começou a namorar o Alan Lima que também trabalhava na peça. Assim nossos encontros passaram a ser no camarim do teatro. Eu era virgem mas se ele quizesse deixaria de ser. Ele sempre me respeitou e dizia que não queria ter isto na sua consciência. Além disso, eu era menor e naquele tempo," menor era chave de cadeia". Me deu várias fotos com dedicatórias amorosas, que minha mãe descobriu e rasgou. Ele dizia que eu era sua menina que o levava pela mão. Uma tarde apareci no teatro sem avisar e encontrei ele com uma mulher. Sai chorando querendo morrer, não comia nem dormia só pensando nele, mas não lhe procurei mais. Meu primeiro namorado, minha primeira dor de amor. Quando tinha 18 anos e trabalhava na boite Lord em São Paulo, ele mandou flores e um convite para jantarmos. Aceitei e finalmente fomos um do outro, mas meu encanto havia acabado. Ele passou em minha vida.............. foi meu primeiro namorado.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

O Grande Amor da Minha Vida

Quando minha mãe conheceu meu pai ela era uma menina de 15 anos cercada de três irmãs e seis irmãos e ele um viúvo também de uma família grande. Ele falou para meu avô que queria casar com ela e meu avô perguntou a ela se era este seu desejo . No ano seguinte estavam casados. Ela contava que moravam na roça, e que foi para a Igreja vestida de noiva numa carroça. Meus avós eram agricultores e meu pai soldado. Minha mãe nunca havia saido da roça e ele foi seu único namorado. Foram morar em Cruz Alta. Logo ela engravidou. Eu nasci dia 13 de Janeiro e 32 dias depois ela fez 17 anos. Era uma moça ingênua que nada sabia da vida e ele tudo sabia de mulheres. Quando eu tinha dez meses minha cabeça ficou coberta de feridas e nenhum médico naquele lugar conseguiu descobrir a causa e muito menos me curar. Foi um curandeiro que fez uma pomada de ervas e deu para minha mãe passar até as feridas secarem. Seu nome era Sotério e minha mãe fez dele meu padrinho. Quando muitos anos depois eu o encontrei, elegante em seu terno beje e seu chapéu Panamá, percebi que eu era uma pessoa abençoada e de muita sorte, pois aquele homem simples, de alma pura havia me salvado a vida. Meu irmão, já não teve a mesma sorte, nasceu cego, " heranças" que meu pai trazia da rua para dentro de casa. Logo ele morreu. E depois morreu minha irmã, vitima também das andanças de meu pai. Acho que estas mortes acabaram com o casamento deles e como quase todos os homens não sabem terminar um relacionamento, meu pai disse para minha mãe que ia procurar emprego e nunca mais voltou. Ela jovem com pouco estudo, sem profissão e com uma filha para criar,voltou para a casa de meus avós. Pouco lembro destes anos, mas recordo que todos fomos morar em Santa Maria e que todos os dias eu descia a rua e ia num sitio tomar um copo de leite tirado direto da vaca e nunca esqueci o cheiro, o sabor e como era quentinho. Minha mãe dizia que queria que eu crescesse forte e saudável. Mas a sua grande preocupação sempre foi a minha educação e para isto fez os maiores sacrifícios, costurando até altas horas para pagar meus estudos. Fui educada num dos melhores colégios de Pelotas, o Colegio Santa Margarida e ela sempre falava que queria me dar tudo aquilo que ela nunca tivera. Ela era jovem, bonita e sozinha, anos depois perdoei meu pai pelo o que ele fez comigo, mas nunca esqueci a dor que ele deixou no coração de minha mãe. Quando fomos para o Rio de Janeiro, levadas por minha tia Maria, que se casara com um carioca, fui estudar no Colegio Imaculada Conceição, na praia de Botafogo. Para mim sempre o melhor que ela podia dar. Muitas coisas passamos juntas, momentos difíceis e alegres, ela foi e sempre será o maior amor da minha vida. Mesmo assim eu a traí quando fugi para entrar no Teatro de Revista e quando me casei com um homem que ela não queria (e como ela tinha razão!). Mas ela me deu seu perdão e me ensinou que por pior que seja o momento de hoje, amanhã é outro dia. Quando nas minhas horas de aflição procurava seus conselhos ela dizia: pra tudo tem jeito menos pra morte. Tenho saudades da sua risada, do seu olhar, da sua força, da sua coragem. Ela deixou para mim e para meus filhos uma grande lição de generiosidade quando aos 56 anos, trabalhando como cabelereira, adotou uma criança e fez desta criança uma Arquiteta e como ela também lutadora e capaz. Aos 79 anos vi minha mãe se casar e confessar que este havia sido o grande sonho de sua vida. Enquanto ela, como uma adolescente, preparava seu casamento descobrimos pela certidão de óbito de meu pai que eu tenho 13 irmãos. A vida nos surpreende e agora desejo muito conhecer os filhos de meu pai. Mas não sei onde encontrá-los e nem sei se eles querem me conhecer.Minha mãe nos reunia todas as quintas-freiras e aos domingos, os almoços eram em sua casa: ela sentava na cabeceira da mesa, costume que herdou de minha avó. Faziamos uma prece de agradecimento a Deus, e esse hábito se prolongou para sempre em nossa família. Ríamos, contavamos as novidades e com sua sabedoria nos indicava os caminhos a seguir. Que falta ela nos faz! Hoje está fazendo um ano que ela se foi. Ela falou comigo pelo telefone ás 18h e ás 22h ela já tinha partido para a viagem sem volta. Naquela noite e muitas outras eu só queria ter ido junto. Viver sem ela é muito difícil, não há um dia que eu não pense nela. Esta é a dor do amor que não tem cura. Ninguém pode fazer nada, não há remédio, só este aperto no coração e essa vontade de abraçar e beijar o meu bichinho, meu pedacinho de carne, minha mãezinha querida, minha amiga , minha companheira, o grande amor da minha vida.