domingo, 11 de janeiro de 2009

Mambembando pelo Estado de São Paulo

Tinha chegado do Rio e estava no Hotel Paramount, o Hotel das Estrelas, em São Paulo. A Cia era Juan e Mary Daniel. Os ensaios de texto, ou de mesa, era na casa do empresário De Basile. As atrizes, os atores, as vedetinhas e a estrela ensaiavam separadas do corpo de baile ( coristas, girls, boys, bailarinos, (as)) que usava o palco. Juan Daniel havia contratado Luz Del Fuego, que se enrolava nas cobras e o público gostava. Era costume da época os empresários quando iam para São Paulo reforçarem seus elencos com nomes de peso, de escandalos . Luz Del Fuego era mais uma atração, um chamariz, a estrela mesmo era Dorinha Duval. Quando fui trabalhar na boite Nyght And Day, no Hotel Serrador no RJ, com Mauricio Lanthos a estrela era Dorinha Duval. Linda morena, um corpo sensacional ela encantava os palcos do teatro de revista. Eu era girl e este era meu terceiro espetáculo .Quando Dorinha me viu nos ensaios perguntou se eu queria trabalhar no teatro Recreio, na Cia Juan e Mary Daniel. Ela me apresentou como vedetinha, isto é com falas e na linha de frente junto com as outras vedetes. Assim rapidamente, me tornei uma vedete com pouca idade ( 16 anos) e pouquissima experiência. Foi no Café do teatro Coliseu que Silva Filho me viu pela primeira vez e, como ele me contou anos depois, me achou exibida e metida. Foi lá tambem que Ricardo, um empresário italiano que trabalhava em SP, me convidou para viajar pelo interior do Estado desfilando como modelo da Lojas Mappin junto com a Orquestra Cassino de Sevilha, que fazia uma excursão pelo Brasil. Viajariamos quarenta e cinco dias, um dia em cada cidade, mostrando as roupas: traje de passeio, gala e praia. O dinheiro era tentador, dez vezes mais que o salário do Teatro.Nem pensei, aceitei na hora! O difícil seria dizer a Juan Daniel que eu estava indo embora. Meu anjo da guarda me ajudou e consegui acertar as contas com De Basile sem problemas.O passo seguinte foi provar as roupas na Loja e começar os ensaios, pois a viagem era em seguida. Elenco pequeno de treze ( meu número de sorte) pessoas.Um bailarino, uma bailarina, uma costureira, um coreografo, sete modelos, um contra-regra e um show- man. Alguns nomes lembro como da bailarina Leda, da mulher do Ricardo, Thilde Jordan, da modelo Roberta Simões, do Assunção e do Lord Chevalier. Faziamos cada uma tres entradas em cena, nos apresentavamos em clubes, nos bailes. A Orquestra Cassino de Sevilha era conhecida internacionalmente e abria o evento. Desfilavamos primeiro em traje de passeio, os bailarinos e o show-man faziam seus numeros enquanto trocavamos de roupa. Depois voltavamos em roupa de praia e por fim, vestidos de noite. Era um sucesso! A cidade toda ia naquela noite ao Clube para nos assistir. A Orquestra encerrava com o baile. Foi de cidade em cidade que aprendi a andar numa passarela, a usar o corpo como instrumento de trabalho e compreendi que tinha como ganhar a vida honestamente e a respeitar meu trabalho e dos meus colegas. As vezes os clubes eram precarios e não dispunham de um lugar decente para nos arrumarmos e muitas vezes usavamos os banheiros como camarins. Tudo valeu a pena, porque esta viagem foi a escola que nunca tive, as dificuldades e as alegrias tiveram um valor duplo pois foram conquistas pessoais e me acompanharam pelo resto da vida!