quinta-feira, 9 de abril de 2009

O Grande Amor da Minha Vida

Quando minha mãe conheceu meu pai ela era uma menina de 15 anos cercada de três irmãs e seis irmãos e ele um viúvo também de uma família grande. Ele falou para meu avô que queria casar com ela e meu avô perguntou a ela se era este seu desejo . No ano seguinte estavam casados. Ela contava que moravam na roça, e que foi para a Igreja vestida de noiva numa carroça. Meus avós eram agricultores e meu pai soldado. Minha mãe nunca havia saido da roça e ele foi seu único namorado. Foram morar em Cruz Alta. Logo ela engravidou. Eu nasci dia 13 de Janeiro e 32 dias depois ela fez 17 anos. Era uma moça ingênua que nada sabia da vida e ele tudo sabia de mulheres. Quando eu tinha dez meses minha cabeça ficou coberta de feridas e nenhum médico naquele lugar conseguiu descobrir a causa e muito menos me curar. Foi um curandeiro que fez uma pomada de ervas e deu para minha mãe passar até as feridas secarem. Seu nome era Sotério e minha mãe fez dele meu padrinho. Quando muitos anos depois eu o encontrei, elegante em seu terno beje e seu chapéu Panamá, percebi que eu era uma pessoa abençoada e de muita sorte, pois aquele homem simples, de alma pura havia me salvado a vida. Meu irmão, já não teve a mesma sorte, nasceu cego, " heranças" que meu pai trazia da rua para dentro de casa. Logo ele morreu. E depois morreu minha irmã, vitima também das andanças de meu pai. Acho que estas mortes acabaram com o casamento deles e como quase todos os homens não sabem terminar um relacionamento, meu pai disse para minha mãe que ia procurar emprego e nunca mais voltou. Ela jovem com pouco estudo, sem profissão e com uma filha para criar,voltou para a casa de meus avós. Pouco lembro destes anos, mas recordo que todos fomos morar em Santa Maria e que todos os dias eu descia a rua e ia num sitio tomar um copo de leite tirado direto da vaca e nunca esqueci o cheiro, o sabor e como era quentinho. Minha mãe dizia que queria que eu crescesse forte e saudável. Mas a sua grande preocupação sempre foi a minha educação e para isto fez os maiores sacrifícios, costurando até altas horas para pagar meus estudos. Fui educada num dos melhores colégios de Pelotas, o Colegio Santa Margarida e ela sempre falava que queria me dar tudo aquilo que ela nunca tivera. Ela era jovem, bonita e sozinha, anos depois perdoei meu pai pelo o que ele fez comigo, mas nunca esqueci a dor que ele deixou no coração de minha mãe. Quando fomos para o Rio de Janeiro, levadas por minha tia Maria, que se casara com um carioca, fui estudar no Colegio Imaculada Conceição, na praia de Botafogo. Para mim sempre o melhor que ela podia dar. Muitas coisas passamos juntas, momentos difíceis e alegres, ela foi e sempre será o maior amor da minha vida. Mesmo assim eu a traí quando fugi para entrar no Teatro de Revista e quando me casei com um homem que ela não queria (e como ela tinha razão!). Mas ela me deu seu perdão e me ensinou que por pior que seja o momento de hoje, amanhã é outro dia. Quando nas minhas horas de aflição procurava seus conselhos ela dizia: pra tudo tem jeito menos pra morte. Tenho saudades da sua risada, do seu olhar, da sua força, da sua coragem. Ela deixou para mim e para meus filhos uma grande lição de generiosidade quando aos 56 anos, trabalhando como cabelereira, adotou uma criança e fez desta criança uma Arquiteta e como ela também lutadora e capaz. Aos 79 anos vi minha mãe se casar e confessar que este havia sido o grande sonho de sua vida. Enquanto ela, como uma adolescente, preparava seu casamento descobrimos pela certidão de óbito de meu pai que eu tenho 13 irmãos. A vida nos surpreende e agora desejo muito conhecer os filhos de meu pai. Mas não sei onde encontrá-los e nem sei se eles querem me conhecer.Minha mãe nos reunia todas as quintas-freiras e aos domingos, os almoços eram em sua casa: ela sentava na cabeceira da mesa, costume que herdou de minha avó. Faziamos uma prece de agradecimento a Deus, e esse hábito se prolongou para sempre em nossa família. Ríamos, contavamos as novidades e com sua sabedoria nos indicava os caminhos a seguir. Que falta ela nos faz! Hoje está fazendo um ano que ela se foi. Ela falou comigo pelo telefone ás 18h e ás 22h ela já tinha partido para a viagem sem volta. Naquela noite e muitas outras eu só queria ter ido junto. Viver sem ela é muito difícil, não há um dia que eu não pense nela. Esta é a dor do amor que não tem cura. Ninguém pode fazer nada, não há remédio, só este aperto no coração e essa vontade de abraçar e beijar o meu bichinho, meu pedacinho de carne, minha mãezinha querida, minha amiga , minha companheira, o grande amor da minha vida.