quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O Ministro do Trabalho e a Amiga Vedete

Ele era o Príncipe Encantado que todas sonhavam, alegre, companheiro, encantador, sedutor, amável, bonitão, muito gentil e cordial. A noite na boate, em sua mesa, estava sempre rodeado pelas mais lindas mulheres do show e não poupava elogios e gentilezas, afinal ele era o Ministro do Trabalho sr. João Goulart, o querido de todas , o Jango. Conheci algumas vedetes que foram apaixonadas por ele: uma tinha um quadro dele, tamanho natural, pintado a óleo na parede da sua sala, outras disputavam sua atenção não medindo truques e artimanhas, eu sempre envolvida com romances mal resolvidos, tive a honra de ser apenas sua amiga. Muitas noites lhe acompanhei e como sempre era no Sachas os últimos drinques, quando ele já não podia dirigir e eu levava seu carro até o Hotel Regente, na Av. Atlântica, onde ele residia. Foi numa destas noites que saímos e no Sachas, ele bebeu como nunca e sua namorada, uma vedetinha do Night And Day, de olhos verdes como o mar, lhe viu pela última vez! Ele se despediu de nós, pois iria para Porto Alegre. O que nós não sabíamos, era que aquela seria nossa última noite com o parceiro de tantas madrugadas! Fomos conhecer a verdade pelos jornais do País, o sr João Goulart se casara no dia seguinte! Foi uma pancada que a vedetinha de olhos verdes custou muito para se recuperar. Nos perdemos de vista e só nos reencontramos quando fui procurá-lo na Presindência da República, eu era candidata a Rainha das Atrizes e a assinatura do Vice-Presidente, no livro de ouro da candidata, valia 500 votos e do Presidente 1000. Pedi a ele que o Presidente Juscelino Kubitschek também assinasse. Consegui as assinaturas. Depois disso nunca mais nos falamos, mas guardei no coração gratas lembranças de nossas noites de boêmia.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Cabidela, o Secretário Cheio de Idéias

Nelson Gonçalves queria me conhecer e pediu ao seu secretário que me convidasse para seu show no Little Club, no beco da rua Duvivier. Foi assim que conheci Jacintho Cabidela, o secretário dos famosos que inventou os desmaios das fãs do Caubi Peixoto na Rádio Nacional. Ele havia sido secretário da Angelita Martinez, e me convenceu a ouvir naquela noite uma das vozes mais lindas do Brasil. Nelson cantou para mim "Fica Comigo Esta Noite", e eu fiquei aquela e muitas outras até que Lourdinha Bittencourti descobriu e quebrou o pau, com ele..... Durante o tempo em que passei a encontrar o Nelson fui conhecendo e achando um sarro aquele engraçado secretário cheio de idéias, agitado, falante e decidido. Depois do flagrante na porta do meu edifício, Nelson apareceu com as malas e eu, covardemente, fugi. Tudo o que eu não queria era um compromisso na minha nova vida de solteira.Tinha 19 anos e acabava de sair de um casamento problemático. Assim, ele foi namorar Nancy Montês e eu fiquei com seu secretário. Até hoje não me arrependo da troca. Cabidela no começo tinha por função trazer recados do Nelson e fazia votos que aquele romance não terminasse. Aos poucos foi largando o ex-patrão e passou a me assessorar dia e noite. E foi numa madrugada quando andávamos pela praia de Copacabana que ele teve a idéia de colocar meu corpo no seguro por 2 milhões de cruzeiros. Fomos na Sul América Seguros e fizemos a apólice. Foi um estouro! Saiu em todos os jornais e revistas. Era a primeira vez que uma artista brasileira fazia este tipo de seguro e fui, com certeza a mulher mais fotografada e entrevistada de 1956. Isto ajudou muito minha carreira. Eu era bilheteria!
Mas Cabidela começou a ultrapassar os limites e já queria mandar até nos meus relacionamentos e a situação foi fugindo do meu controle e depois de muitas discussões ele saiu de minha vida. Ufa! Que batalha! Mas lembro dele com carinho e hoje compreendo sua dedicação e ainda rio quando ele, no telefone, perguntava com aquele sotaque nordestino: sou ou não sou teu secretário,tenho que acabar com esta punheta mental!

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Anilza Leoni, Profundamente Triste

Acho que todas as pessoas que se amassem deveriam, viver numa mesma comunidade, assim não passariam pela dor e pelo sofrimento que venho passando no decorrer destes últimos anos. Tenho acumulado perdas irremediáveis. Assisto partidas daqueles que amei sem ter tido a oportunidade de ter dito a eles o quanto foram valiosos e significativos para minha vida. Assim vi Costinha, meu amigo e compadre, ir embora sem que pudesse rir com ele de suas aventuras e desventuras o que "seria cômico se não fosse trágico." Depois se foi Colé, que quando fui convidada para ir a Portugal estava trabalhando com ele no teatro Carlos Gomes na revista Rio Sol e Fantasia, e ele me disse no camarim: é uma opotunidade única, não sou de atrapalhar a carreira de ninguém, só deixa alguém no seu lugar. Fui buscar a amiga Sonia Mamede, que gentilmente me substituiu. Quando Nélia Paula partiu, partiu um pouco do meu coração. Foi com ela que comecei no teatro, ela era a grande sensação daquele momento. Eles indo embora e eu longe, tão longe e ao mesmo tempo tão perto, através da dor, da impotência que a morte nos causa. E lá se foi aquele amigo que tanto amei, que nunca me faltou, Vianna Junior, onde vc estiver saiba que jamais esquecerei.....Rose Rondelli, Carla Nell, Angelita Martinez, Joana D'arc, Renata Fronzi, Silva Filho, Orlando de Lima, Siwa, Vagareza, Mara Rúbia e tantos outros que nos encantaram, emocionaram, ensinaram, foram todos mestres da arte de representar, verdadeiros astros da alegria e do humor. Heróis de um tempo que nunca mais voltará. Hoje profundamente triste, lembro dela e de todos os caminhos por onde juntas trilhamos. Tinha guardado para ela um texto especial que queria que ela lesse, sorrisse e dissesse:" só vc mesma!". Aniza Leoni , as notícias são péssimas, os e-mails e os telefonemas não nos dão esperanças , mas nunca é tarde para dizer o quanto sou grata pelas inúmeras vezes que vc me indicou para trabalhos que não podia fazer, pela reunião que vc organizou com a Lia Mara para mim e o pessoal do teatro de revista em 2000, pelos wisques que tomamos lembrando dos velhos e bons tempos, pela nossa cumplicidade de artistas e sobretudo mulheres. Rezo e peço a Deus que vc possa vencer esta batalha para que eu possa olhando nos seus olhos dizer: amo vc amiga, sempre, sempre........

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Lembranças de Amor

Fui com uma amiga assistir o filme Loki- Arnaldo Baptista, saí do cinema com um aperto no coração e um nó na garganta. Logo vieram as lágrimas e não deu mais para segurar e a volta para casa foi só de recordações, de saudades...... Bateu um arrependimento e uma vontade que o tempo voltasse para que eu pudesse, naquela época saber perdoar, compreender que todos nós erramos e merecemos uma segunda chance. Mas eu achava que os portugueses estavam certos quando diziam:" se me enganas uma vez é porque eu não sabia, se me enganas de novo é porque eu sou burro". E burra eu achava que não era..... A dor da perda era grande mas o orgulho foi bem maior. E o amor que parecia ser eterno se desmancha, se dilui, evapora, some, só fica aquela mágoa da traição, aquele ressentimento, será que é só isso? Claro que não, o amor , por mais que você queira, não termina assim, nós não temos esse poder de dizer ao amor : chega vai embora sai do meu coração agora! Você pode tirar a pessoa da sua vida mas jamais do seu coração! Essa proeza só o tempo é capaz de fazer e assim mesmo, não totalmente, lá no fundo bem guardado há de ficar um gosto amargo da perda, do nunca mais! Um ano após nos separarmos nos encontramos no Teatro Rival e confesso que fiquei atordoada, sem rumo , corri para o primeiro camarim, não escolhi, simplesmente entrei e junto comigo o desespero , as lágrimas e a vontade louca de abraçar e beijar aquele homem que havia me encantado , enfeitiçado e me feito tão feliz e tão amada como nenhum outro. Ele era o pai do meu filho e ele morreu sem saber o quanto foi amado por mim. Dificilmente, mesmo tendo um filho nos falávamos, ele me intimidou mandando um advogado falar comigo que ia pedir a guarda do meu filho e a resposta que dei foi que nunca cobrei dele meus direitos de companheira e de mãe. Dez anos depois, já superadas as diferenças, voltamos a falar e ele então, me pediu perdão e também pediu para voltar, dizia estar arrependido e que havia mudado muito e ainda me amava como antes, isto tudo na frente do meu namorado . O tempo havia passado e eu já estava comprometida com meu futuro marido. O constrangimento foi total. Era tarde demais ..... E depois de tantos anos ele me convidou para ser estrela do seu novo espetáculo! Ainda hoje lembro dele e acredito que podemos amar muitas vezes e cada vez o amor ser diferente . O amor pode ter muitas caras, mas com certeza tem um que sempre será o único , o eterno.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Amigas e Amigos do Coração 2

Hoje acordei pensando muito numa amiga que já partiu. Um aperto no peito, uma vontade de fazer o tempo parar e viver tudo outra vez. Voltar e parar naquela tarde na Av. Copacabana esquina da Bolivar onde nos encontramos pela primeira vez. Ela acompanhava os passos de seu filho, que já queria correr. Alguém nos apresentou e logo ficamos amigas. Rosermi Rondelli, a Rose Rondelli. Nesta época ela era casada com Carlos Gil e nossos assuntos eram sobre o Eduardo , o Duda, seu filhinho, suas travessuras e gracinhas. Rose, a vedete, era uma mulher lindíssima, alta, corpo perfeito, um rosto cheio de alegria com um sorriso contagiante, divertida, ironica e muito franca. Ela me chamava de Boneca Cobiçada, apelido que me deu e que ficou para sempre. Quando fomos trabalhar juntas no Teatro João Caetano, na Cia Silva Filho, na revista " É Tudo Juju- Frufru" já havia uma grande afinidade que se consolidou mais ainda. Parceiras na ficção e na realidade, participávamos uma da vida da outra e não tínhamos segredos. Eramos livros abertos que uma podia ler sem o consentimento da outra. Solteiras e desempedidas tudo era motivo para gargalhadas e deboches. Certa vez fízemos uma aposta para ver quem conseguia namorar um bailarino do Ballet da Mercedes Batista, o Waldir. Ficavámos na coxia vendo ele dançar, pois entravámos em cena depois, a paquera era diária. Apostamos um jantar que ganhei porque fui mais fundo na conquista. Era tão grande nossa cumplicidade que nos entendíamos pelo olhar. Uma vez assumi um namoro com um cômico num restaurante porque chegou um jornalista que era seu namorado e já andava desconfiado da traíção. Coisas do coração. E fomos caminhando pela vida sem nos separarmos embora muitas vêzes longe. Estava trabalhando na TV-RIO e ela foi na gravação do programa "Chico Anísio Show" me encontrar, então apresentei-a ao meu amigo Chico Anísio e ali começou um amor que resultou num casamento e dois lindos filhos, Nísio Neto e o Rico ( Ricardo). Enquanto morei no Rio frequentei sua casa na Urca onde meu filho brincava com seus filhos e mais o Lugue ( Luiz Guilherme), filho da Nancy Wanderley . Lembro que quando fui falar a ela que vinha embora para Porto Alegre, ela me disse: ''Você não vai resolver seus problemas fugindo ", eu não estava fugindo mas rompendo laços e querendo uma nova vida para mim e minha família. Grande Otelo também não acreditou e nem Brigithe Blair quando me convidou para ser estrela de seu teatro e eu disse que ia mudar de vida. Com o passar dos anos, percebi que embora distante, os laços não se consegue romper são fortes demais e a nova vida sempre está ligada a antiga.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Lugar Certo, Hora Certa

O ano era 1953, quase fim de tarde, eu ia passando na Av. Copacabana em frente ao Teatro Follies no RJ, quando o empresário Zilco Ribeiro e o cômico Colé se aproximaram e perguntaram se eu gostaria de trabalhar no teatro respondi que sim. A pergunta seguinte foi minha idade."Dezoito anos", disse. Eles me olharam e acreditaram. Eu tinha dezesseis, era menor.....corpo de mulher, cara de menina. Meu nome? Lena Laje, a moda era a dobradinha de letras do nome com o sobrenome, Marilyn Monroe, Brigithe Bardot, etc...Na hora escolhi este nome, Lena para poder fazer a dobradinha com Laje porque eu gostava da Eliane Laje, estrela do nosso cinema . Fui convidada a seguí-los até o palco onde conheci o coreógrafo Norberto. Subi ao palco e fui ouvindo as orientações dos três. Faria um desfile com outras girls num vestido longo enquanto Nélia Paula, a estrela cantava Risque de Ari Barroso, até aí tudo bem, depois com um biquine amarelo, colarinho, luvas, bengala e sapatos brancos, mais uma cartola preta com uma fita branca seria a vez do sapateado. Norberto perguntou: " Você sabe sapatear?" e como Mara Rúbia havia me ensinado, respondi: "Sim...claro!" Ele então segurou minha mão e cantarolou um fox-trote fazendo os passos do sapateado. Eu, me achando esperta, tentava seguí-lo. A aparição seguinte seria o final da revista, Operetas, com todo o elenco, minha roupa era de morcego um biquine preto e uma capa preta. Fiz a prova das roupas e desfilei pelo palco. Havia passado no teste. Estava contratada. Estreiaria naquela noite! Nem acreditei! E minha mãe? E o Colégio de freiras? Minha hora de voltar para casa era ás 20h, exatamente a hora que o espetáculo estaria começando. Naquele momento decidi minha vida. Não voltaria para casa. Se eu não estivesse passando na Av. Copacabana naquela hora, minha vida teria sido totalmente diferente e eu não teria vivido o que vivi nem sido o que fui, mas eu estava passando no lugar certo e na hora certa.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Mara Rúbia, a Vedete, Começo de Tudo

Após o namoro com Jardel Filho, nos mudamos para a rua Siqueira Campos na saída do Tunel Velho. Continuei no Colégio Imaculada Conceição e as tardes fui estudar inglês no Cultural na Av. Copacabana em frente a loja São João Batista, que era um prédio de quatro andares onde na cobertura morava a mais linda de todas as vedetes: a loura Mara Rúbia. Passei a frenquentar sua casa e as aulas de inglês foram ficando para mais tarde. Seu apartamento tinha um salão onde havia um piano que ela não tocava e eu ensinava a ela o pouco que sabia. Na cobertura tinha um pequeno palco onde ela ensaiava seus números. Loura, cabelos bem curtinhos e muito carismática, aquela mulher representava tudo que eu admirava na vida. Osmarina, esse era seu nome. Era do Pará, desquitada e tinha três filhos. Fazia sucesso, junto com Virginia Lane, nas Revistas do Walter Pinto no Teatro Recreio. Era simpática e charmosa e era a minha inspiração. A Mara tinha um cacoete, acho que no lado direito do rosto, e ela ficava piscando várias vêzes. Certa ocasião, eu já trabalhava no teatro, estavamos no bar do Teatro Recreio, Silva Filho, Perpétuo Silva, São Cristovão (maquinista), Walter Pinto, mais outras pessoas e um rato de teatro. Rato de teatro era aquele que não trabalhava no meio, mas sempre estava presente, ninguém sabia como aquela pessoa conseguia se inflitrar de tal modo que sua presença era aceita sem questionamentos. Alguns se tornaram até famosos. Conversávamos, quando a Mara chegou para a sessão da tarde. Parou junto ao grupo sorriu para todos, disse algumas palavras e foi para o camarim. Quando ela se retirou o rato falou: " Vocês viram, a mulher piscou para mim o tempo todo!" A gargalhada foi geral! Mara dizia que a vida de vedete era uma ilusão, que na noite todos a conheciam, a admiravam, mas quando chegava em casa sua companheira era a solidão. Não conseguia entender como era possível uma mulher tão linda falar de solidão. Comentava que a vida de família ainda era tudo que ela mais desejava . Aconselhava que se um dia eu fosse trabalhar no palco e me perguntassem o que sabia fazer a resposta deveria ser: "Tudo". "Sim sei cantar, sim sei dançar", sempre sim. Como foram úteis nossos encontros e conversas para minha vida. Alguns anos depois estava eu dizendo que sabia fazer tudo num palco, sem saber fazer nada, e muitos anos depois compreendi o que era ser famosa e sentir solidão.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

O Grupo Cartaberta e Os Mistérios do Sexo

Quando comecei a escrever este blog não tinha a intenção de seguir uma ordem cronológica ia escrevendo conforme a saudade batia ou a inspiração viesse. Mas até mesmo num blog não somos donas do nosso destino e eis que aparece uma encantadora pessoa mexendo num passado não muito distante e despertando lembranças agradáveis. Necka Ayala, querida amiga, você trouxe de volta um tempo que foi precioso demais, quando no seu blog, in neckaayala.blogspot, mandou aquele recado que me inspirou este texto. A primeira pessoa que me convidou para fazer teatro em Porto Alegre, foi Carlos Carvalho. Eu ainda estava fazendo a faculdade de Artes Cênicas, e nos reunimos na casa dele e da Araci Esteves, no elenco lembro da Lourdes Eloi e do Bira Valdez que também faria a produção. Não fiquei, pois meu marido, Orlando de Lima, havia sofrido seu segundo infarto e precisava muito de minha atenção. Outra ocasião, João Castro Lima e Lutti Pereira me convidaram para fazer uma comédia , mas a faculdade atrapalhou tudo e novamente recusei. Quando Toninho Vasconcellos me chamou para o papel da portuguesa, Dona Augusta, na peça de Coelho Neto,"Os Mistérios do Sexo", na primeira leitura eu já sabia que faria e que a peça seria um sucesso. Pura intuição artística! O Grupo era o Cartaberta formado pelos funcionários dos Correios, Fábio Peroni, Rô Saad, Bárbara Zerbrowiski e Gisele Peroni e os atores Gian Carlomagno, Henri Iunes, Taís Van Ondheusden e eu como atriz convidada. Estreamos no dia 4 de Agosto de 1990 no Auditório dos Correios e Telégrafos. Sobre o espetáculo escreveu o crítico de teatro do jornal Zero Hora, Cláudio Heemann: "Com bom ritmo e atores desenvoltos, visual pop e marcações dinâmicas, Toninho Vasconcellos acertou na mosca.Os Mistérios do Sexo brilha como comédia de costumes. " e segue mais adiante: " Eloina Ferraz após anos de ausência, volta`acena em plena forma, no papel de uma bisbilhoteira". Tivemos seis indicações para o troféu Açorianos e sete para o troféu Quero-Quero. Apresentamos também nos teatros Àlvaro Moreira, Bruno Kiefer, Câmara, Renascença, nas cidades de Pelotas, Montenegro e Santo Angêlo e no Festival de Teatro de Canela. Havia muita garra naquilo que fazíamos, eramos unidos pelo mesmo desejo: fazer o melhor possível para agradar ao público. E conseguiamos. Ficamos em cartaz dois anos. Não continuei no Grupo, porque a montagem seguinte seria "Medéia" e eu não queria fazer, naquele momento, uma tragédia. Recordo com carinho os encontros, onde o violão, a voz da Necka e da Rô, embalavam nossos momentos de descontração e as madrugadas naquele boteco perto do apê do Toninho que servia um vinho tinto de jarro que a gente tomava, ficava mais alegre, e esquecia da vida!

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Jardel Filho, Primeiro Namorado

Moravamos na rua Gustavo Sampaio, no Leme (RJ), eu tinha 14 anos e frequentava a praia junto com uma amiga que morava em frente ao mar, Aimê, ela era sobrinha do deputado Barreto Pinto, uma figura bastante polêmica na época. Durante a semana iamos a praia e aos domingos ao Teatro Municipal assistir óperas que o deputado fornecia os convites, daí minha paixão pelo gênero. Havia outra amiga que vez ou outra aparecia, Hazel, bonita, pra ninguém botar defeito. Esse trio paquerava os rapazes e o favorito era um louro de olhos azuís da cor do céu que morava numa travessa da Gustavo Sampaio com sua mãe dona Lodia Silva. Seu nome era Jardel Filho. Olhavamos tanto para ele que um dia ele veio falar conosco. Quando ele se aproximou minhas pernas começaram a tremer, o mundo parecia que tinha parado e quase desmaiei diante daquele par de olhos azuís. Assim começou nosso namoro. Todos os dias nos encontravamos na praia e ficavamos juntos de mãos dadas indo até o mar brincar. Um dia fomos ficando, ficando, deitados na areia e ele me deu o primeiro beijo na boca. Pensei que fosse morrer......minha mãe veio me procurar e viu, pois a hora havia passado e nós nem percebemos. Ela estava furiosa, pois meu comportamento não era de uma menina decente. E aquele homem bem mais velho , era um artísta. Foi um escândalo na minha casa. Fui proibida de ir a praia e a ópera! Fiquei de castigo e tive que prometer a ela que não veria mais o Jardel. Promessa que, evidentemente, não cumpri. Nos encontravamos as escondidas e ele me convidou para assistir "Jezebel", no Teatro Copacabana , levei a Hazel que começou a namorar o Alan Lima que também trabalhava na peça. Assim nossos encontros passaram a ser no camarim do teatro. Eu era virgem mas se ele quizesse deixaria de ser. Ele sempre me respeitou e dizia que não queria ter isto na sua consciência. Além disso, eu era menor e naquele tempo," menor era chave de cadeia". Me deu várias fotos com dedicatórias amorosas, que minha mãe descobriu e rasgou. Ele dizia que eu era sua menina que o levava pela mão. Uma tarde apareci no teatro sem avisar e encontrei ele com uma mulher. Sai chorando querendo morrer, não comia nem dormia só pensando nele, mas não lhe procurei mais. Meu primeiro namorado, minha primeira dor de amor. Quando tinha 18 anos e trabalhava na boite Lord em São Paulo, ele mandou flores e um convite para jantarmos. Aceitei e finalmente fomos um do outro, mas meu encanto havia acabado. Ele passou em minha vida.............. foi meu primeiro namorado.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

O Grande Amor da Minha Vida

Quando minha mãe conheceu meu pai ela era uma menina de 15 anos cercada de três irmãs e seis irmãos e ele um viúvo também de uma família grande. Ele falou para meu avô que queria casar com ela e meu avô perguntou a ela se era este seu desejo . No ano seguinte estavam casados. Ela contava que moravam na roça, e que foi para a Igreja vestida de noiva numa carroça. Meus avós eram agricultores e meu pai soldado. Minha mãe nunca havia saido da roça e ele foi seu único namorado. Foram morar em Cruz Alta. Logo ela engravidou. Eu nasci dia 13 de Janeiro e 32 dias depois ela fez 17 anos. Era uma moça ingênua que nada sabia da vida e ele tudo sabia de mulheres. Quando eu tinha dez meses minha cabeça ficou coberta de feridas e nenhum médico naquele lugar conseguiu descobrir a causa e muito menos me curar. Foi um curandeiro que fez uma pomada de ervas e deu para minha mãe passar até as feridas secarem. Seu nome era Sotério e minha mãe fez dele meu padrinho. Quando muitos anos depois eu o encontrei, elegante em seu terno beje e seu chapéu Panamá, percebi que eu era uma pessoa abençoada e de muita sorte, pois aquele homem simples, de alma pura havia me salvado a vida. Meu irmão, já não teve a mesma sorte, nasceu cego, " heranças" que meu pai trazia da rua para dentro de casa. Logo ele morreu. E depois morreu minha irmã, vitima também das andanças de meu pai. Acho que estas mortes acabaram com o casamento deles e como quase todos os homens não sabem terminar um relacionamento, meu pai disse para minha mãe que ia procurar emprego e nunca mais voltou. Ela jovem com pouco estudo, sem profissão e com uma filha para criar,voltou para a casa de meus avós. Pouco lembro destes anos, mas recordo que todos fomos morar em Santa Maria e que todos os dias eu descia a rua e ia num sitio tomar um copo de leite tirado direto da vaca e nunca esqueci o cheiro, o sabor e como era quentinho. Minha mãe dizia que queria que eu crescesse forte e saudável. Mas a sua grande preocupação sempre foi a minha educação e para isto fez os maiores sacrifícios, costurando até altas horas para pagar meus estudos. Fui educada num dos melhores colégios de Pelotas, o Colegio Santa Margarida e ela sempre falava que queria me dar tudo aquilo que ela nunca tivera. Ela era jovem, bonita e sozinha, anos depois perdoei meu pai pelo o que ele fez comigo, mas nunca esqueci a dor que ele deixou no coração de minha mãe. Quando fomos para o Rio de Janeiro, levadas por minha tia Maria, que se casara com um carioca, fui estudar no Colegio Imaculada Conceição, na praia de Botafogo. Para mim sempre o melhor que ela podia dar. Muitas coisas passamos juntas, momentos difíceis e alegres, ela foi e sempre será o maior amor da minha vida. Mesmo assim eu a traí quando fugi para entrar no Teatro de Revista e quando me casei com um homem que ela não queria (e como ela tinha razão!). Mas ela me deu seu perdão e me ensinou que por pior que seja o momento de hoje, amanhã é outro dia. Quando nas minhas horas de aflição procurava seus conselhos ela dizia: pra tudo tem jeito menos pra morte. Tenho saudades da sua risada, do seu olhar, da sua força, da sua coragem. Ela deixou para mim e para meus filhos uma grande lição de generiosidade quando aos 56 anos, trabalhando como cabelereira, adotou uma criança e fez desta criança uma Arquiteta e como ela também lutadora e capaz. Aos 79 anos vi minha mãe se casar e confessar que este havia sido o grande sonho de sua vida. Enquanto ela, como uma adolescente, preparava seu casamento descobrimos pela certidão de óbito de meu pai que eu tenho 13 irmãos. A vida nos surpreende e agora desejo muito conhecer os filhos de meu pai. Mas não sei onde encontrá-los e nem sei se eles querem me conhecer.Minha mãe nos reunia todas as quintas-freiras e aos domingos, os almoços eram em sua casa: ela sentava na cabeceira da mesa, costume que herdou de minha avó. Faziamos uma prece de agradecimento a Deus, e esse hábito se prolongou para sempre em nossa família. Ríamos, contavamos as novidades e com sua sabedoria nos indicava os caminhos a seguir. Que falta ela nos faz! Hoje está fazendo um ano que ela se foi. Ela falou comigo pelo telefone ás 18h e ás 22h ela já tinha partido para a viagem sem volta. Naquela noite e muitas outras eu só queria ter ido junto. Viver sem ela é muito difícil, não há um dia que eu não pense nela. Esta é a dor do amor que não tem cura. Ninguém pode fazer nada, não há remédio, só este aperto no coração e essa vontade de abraçar e beijar o meu bichinho, meu pedacinho de carne, minha mãezinha querida, minha amiga , minha companheira, o grande amor da minha vida.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Amigas e Amigos do Coração 1

Escrever sobre amigos e não lembrar dele seria ingratidão e se tem uma coisa que não sou é ingrata. Nos conhecemos nos ensaios da revista "Dando Sopa Com Pouca Roupa" no Teatro das Bandeiras e depois fizemos várias revistas juntos. Vianna Junior era grande companheiro, ele , Gibe e eu fazíamos um trio inseparável. Como eu morava no Rio, me hospedava no Principe Hotel, na Av. São João, então nossos encontros, fora do palco, eram sempre aos domingos no almoço, na casa da família do Vianna. Caipirinha, e aquela comidinha gostosa da mãe dele. Depois muitas piadas e grandes gargalhadas. Piadas que só nós entendiamos....segredos que só nós compartilhavamos......e assim fomos tocando nossas vidas, até minha volta para o Rio. Nos separamos e quando sofri um grave acidente que mudou toda minha vida, ele foi a única pessoa que telefonou de São Paulo perguntando se eu precisava de alguma coisa, de ajuda finaceira etc.... tudo o que eu precisava naquela hora era ouvir a voz de um amigo interessado na minha dor e ele me deu isso: a certeza que acontecesse o que acontecesse eu tinha um amigo! Aquele telefonema foi fundamental para as decisões que tomei na minha vida. E aprendi que amigo é aquele que na alegria ou na dor está sempre do nosso lado mesmo distante, está do nosso lado!

domingo, 22 de março de 2009

Moda Saint-Tropez, Umbigo de fora e Polícia

O ano era 1961 e Paris continuava a ser a capital da moda. A manchete da Última Hora dizia: Moda Lançada na França Parou o Transito no Rio "Calça a "la homme", curtinha, e reduzido bolero abotoado atrás, e entre os dois uma faixa em que o umbigo á mostra é o centro da gravidade- tal é a moda francesa atualmente muito em voga em Saint- Tropez, perto de Cannes, e ontem exibida em plena rua do Ouvidor por Eloina , com muito exito. O transito ficou um tanto tumultuado, porque até mesmo cidadãos já entrados ao outono, como este da foto, não resistiram a um olhar matreiro no costume bossa nova." Texto da notícia do lançamento da moda Saint-Tropez que desfilei pelas ruas do centro do RJ. Foi um sucesso! Amparito, outra vedete, não conformada, dizia que o traje dela era mais adequado á moda que o meu. A polemica estava formada. Mas nada comparado ao escandalo de São Paulo. Os jornais paulistanos davam a notícia: São Paulo Contra os Umbigos, eis o que diz um deles:" No inicio, era uma simples disputa entre as vedetes Eloina e Amparito: qual das duas tinha mais perfeito umbigo? O público decidiria, porque o duelo seria público, em hora de grande movimento, no Viaduto do Chá , em São Paulo. Como Amparito presa no RJ por contrato não pode competir, Eloina arregimentou, sem perda de tempo, outras vedetes do Teatro Natal e resolveram dar um show de umbigos.Todas teriam que usar trajes a Saint-Tropez. Na primeira volta pelo Viaduto, a Polícia prendeu as vedetes, encaminhando-as á Delegacia de Costumes, onde foram baixadas ordens severas:" em São Paulo umbigos de fora dão cana!" As colegas desta aventura foram: Brigite Blair e Janete Bezerra.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Amigas e Amigos do Coração

Quando a saudade bate bom mesmo é escrever e hoje lembrei de alguns amigos e amigas que fiz nos meus dezenove anos de teatro. A primeira delas foi a Isa Rodrigues. Conheci a Isa quando estreiei no teatro, a peça era Mulheres Cheguei, na Cia do Colé, sociedade com Zilco Ribeiro no Teatro Follies em Copacabana. Era a noite da minha vida e ela foi muito gentil comigo e dali nasceu uma amizade que nem o tempo conseguiu terminar. Passamos muitas noites de nossas vidas juntas, gostavamos de jogar e atravessamos periodos incriveis de aventuras e romances, de trocas e de cumplicidades e por vários anos, na casa dela com sua família, vi a chegada de um novo ano. Frequentei a casa do pai da Isa, na Praça Tiradentes onde se formava um jogo de cartas que jogavam velhos artistas, Benito Rodrigues, pai da Isa, Alzira Rodrigues, mãe , Antonio da Silva, pai do Silva Filho, Boateaux Sobrinho , dramaturgo, São Cristovão, maquinista do teatro, Perpétuo da Silva, irmão do Silva Filho, era um jogo murrinha, baratinho, mas lá estava eu todas as noites. Todo mundo falava que eu era louca aturar aquela velharia, mas eu adorava passar minhas noites com eles, jogando, rindo e me sentindo a filha de todos. A Bolacha, era esse o apelido da Isa, gostava de jogar cartas , eu do pano verde ( Campista, Bacará ). Quando não estavamos trabalhando, estavamos jogando! Certa vez ganhei tanto dinheiro numa Campista que o dono do jogo pediu para eu parar. Levei o dinheiro numa caixa de sapatos para casa. Dinheiro vivo que pagou minha plástica do nariz e do queixo com o Dr Ivo Pitangui. Na rua Alvaro Alvin tinha o Clube do Amoroso que deu uma mesa para as vedetes formarem jogo. Cada vedete tinha seu dia da semana, assim Nélia Paula, Angelita Martinez, Esther Tarcitano, Isa Rodrigues e eu iamos todas as noites ao Clube para prestigiarmos a noite do jogo daquela colega, isto quer dizer que jogavamos todas as noites. Se perdiamos o Amoroso descontava da nossa noite, se ganhavamos um pouco ficava para a casa, outro para nós. Com essa proposta, sempre tinhamos dinheiro e ele sempre a casa cheia pois, tinha uma mesa de vedetes e todos queriam jogar com as belas do Teatro. Bolacha, companheira de tantos caminhos agora está no Retiro dos Artistas e outro dia quando falavamos pelo telefone, querendo me consolar pela perda da minha mãezinha e do meu companheiro, me convidou para morar no Retiro e ficarmos juntas e quem sabe fazermos um carteado! Grande amiga, grande figura!

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Boite Lord Hotel, São Paulo

Quando voltamos da excursão do interior de SP, Ricardo ( lamento não lembrar do seu sobrenome), nos convidou para trabalharmos na boite do Lord Hotel, do empressário Francisco Mazza, Dom Ciccilo, que ficava no último andar do mesmo, ali na esquina da Av. São João com o Largo do Arouche. Como eu não morava em São Paulo, fui para o anexo do hotel, o Lordinho na rua em frente. Foi o melhor aprendizado da minha carreira. A verdadeira escola de palco: a prática. Lá aprendi a representar, dançar , sapatear, cantar.Trabalhei com os mais expressivos atores, atrizes, cômicos e bailarinos do meio teatral. Jackson Vanosi, bailarino e coreógrafo, Zeloni, Walter D´Avila, Badaró, Adoniran Barbosa, João Ribas, Genésio Arruda, Jaime Barcelos, Marilena Ansaldi, Jane Andersen, Marília Franco (bailarina do Teatro Municipal) , Aury Cahet, Thilde Jordan, Roberta Simões, Joshey Leão (bailarino do Municipal) e muitos outros. Foi uma escola inesquesível! Nossos shows eram às duas horas da madrugada. A meia noite eram os shows internacionais. Lá, também tive grandes emoções, assistindo Rita Pavone, Thedy Reno, Trio Los Panchos, a sensacional Edith Piaf e outros. Alguns shows que fizemos: Colégio das Boas Meninas, Máscaras ...e Nada Mais, Hoje Tem Carnaval e outros. Foi assistinho um show na boite que Sandro e Maria Della Costa me convidaram para fazer Agnes no Canto da Cotovia. Fui até a casa de Gianni Ratto fazer uma leitura da personagem. Depois de alguns ensaios desisti. Meu trabalho naquele momento era de madrugada. Não fui mais. Meus caminhos eram outros. Não me arrependo, pois tive no Teatro de Revista tudo que um artista deseja em sua carreira.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Mambembando pelo Estado de São Paulo

Tinha chegado do Rio e estava no Hotel Paramount, o Hotel das Estrelas, em São Paulo. A Cia era Juan e Mary Daniel. Os ensaios de texto, ou de mesa, era na casa do empresário De Basile. As atrizes, os atores, as vedetinhas e a estrela ensaiavam separadas do corpo de baile ( coristas, girls, boys, bailarinos, (as)) que usava o palco. Juan Daniel havia contratado Luz Del Fuego, que se enrolava nas cobras e o público gostava. Era costume da época os empresários quando iam para São Paulo reforçarem seus elencos com nomes de peso, de escandalos . Luz Del Fuego era mais uma atração, um chamariz, a estrela mesmo era Dorinha Duval. Quando fui trabalhar na boite Nyght And Day, no Hotel Serrador no RJ, com Mauricio Lanthos a estrela era Dorinha Duval. Linda morena, um corpo sensacional ela encantava os palcos do teatro de revista. Eu era girl e este era meu terceiro espetáculo .Quando Dorinha me viu nos ensaios perguntou se eu queria trabalhar no teatro Recreio, na Cia Juan e Mary Daniel. Ela me apresentou como vedetinha, isto é com falas e na linha de frente junto com as outras vedetes. Assim rapidamente, me tornei uma vedete com pouca idade ( 16 anos) e pouquissima experiência. Foi no Café do teatro Coliseu que Silva Filho me viu pela primeira vez e, como ele me contou anos depois, me achou exibida e metida. Foi lá tambem que Ricardo, um empresário italiano que trabalhava em SP, me convidou para viajar pelo interior do Estado desfilando como modelo da Lojas Mappin junto com a Orquestra Cassino de Sevilha, que fazia uma excursão pelo Brasil. Viajariamos quarenta e cinco dias, um dia em cada cidade, mostrando as roupas: traje de passeio, gala e praia. O dinheiro era tentador, dez vezes mais que o salário do Teatro.Nem pensei, aceitei na hora! O difícil seria dizer a Juan Daniel que eu estava indo embora. Meu anjo da guarda me ajudou e consegui acertar as contas com De Basile sem problemas.O passo seguinte foi provar as roupas na Loja e começar os ensaios, pois a viagem era em seguida. Elenco pequeno de treze ( meu número de sorte) pessoas.Um bailarino, uma bailarina, uma costureira, um coreografo, sete modelos, um contra-regra e um show- man. Alguns nomes lembro como da bailarina Leda, da mulher do Ricardo, Thilde Jordan, da modelo Roberta Simões, do Assunção e do Lord Chevalier. Faziamos cada uma tres entradas em cena, nos apresentavamos em clubes, nos bailes. A Orquestra Cassino de Sevilha era conhecida internacionalmente e abria o evento. Desfilavamos primeiro em traje de passeio, os bailarinos e o show-man faziam seus numeros enquanto trocavamos de roupa. Depois voltavamos em roupa de praia e por fim, vestidos de noite. Era um sucesso! A cidade toda ia naquela noite ao Clube para nos assistir. A Orquestra encerrava com o baile. Foi de cidade em cidade que aprendi a andar numa passarela, a usar o corpo como instrumento de trabalho e compreendi que tinha como ganhar a vida honestamente e a respeitar meu trabalho e dos meus colegas. As vezes os clubes eram precarios e não dispunham de um lugar decente para nos arrumarmos e muitas vezes usavamos os banheiros como camarins. Tudo valeu a pena, porque esta viagem foi a escola que nunca tive, as dificuldades e as alegrias tiveram um valor duplo pois foram conquistas pessoais e me acompanharam pelo resto da vida!